segunda-feira, 9 de julho de 2007

Almirante Karl Doenitz, responsável pelo ataque do U-507





Almirante Karl Doenitz, então chefe da Força de Submarinos da Alemanha nazista, ordenou que o U-507 se deslocasse para a costa brasileira, a fim de perpretar um covarde ato de retaliação, que culminou com o assassinato de 652 brasileiros, ao torpedear o Baependi, o Araraquara, o Aníbal Benévolo, o Itagiba e o Arará, entre os dias 15 e 17 de agosto de 1942.

O almirante Karl Doenitz, apontado por Hitler como seu sucessor e alcunhado Führer de Flensburg, foi preso em 23 de maio na própria Flensburg, ao lado de outros membros de seu comando.

Um dos réus mais visados no Tribunal de Nuremberg, foi o almirante Karl Doenitz, por ter sucedido oficialmente a Hitler e negociado a rendição incondicional da Alemanha nazista. Ele se defendeu dizendo que toda a culpa deveria recair não sobre os militares, mas sobre os políticos que levaram o nazismo ao poder e iniciaram a guerra. A acusação, entretanto, mostrou documentos referentes à chamada "Ordem Lacônia", de 1942, na qual Doenitz proibiu qualquer socorro aos náufragos de embarcações aliadas atingidas, argumentando que o inimigo não se importava com as mulheres e crianças alemãs nas cidades que bombardeava. A exemplo de quase todos os demais réus, Doenitz afirmou que ignorava a existência dos campos de extermínio. Admitiu que, por volta de 1938, soube de algumas perseguições contra os judeus, "mas estava muito ocupado com problemas navais para me preocupar com os judeus". Foi condenado a dez anos de prisão, vindo a morrer em 1980.

Palavras do almirante Karl Doenitz sobre Hitler:

"Que teria sido da nossa pátria se o Führer não nos tivesse unido no nacional-socialismo? Dividida pelos partidos, desmembrada pelo veneno corrosivo do judaismo... há muito teríamos caído nas mãos do inimigo..." ( 12 de março de 1944, aos 600 mil homens da Marinha de guerra nazista)

http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/KarlDoen.html

Baependi, o primeiro navio a ser atacado pelo U-507




A TRAGÉDIA DO BAEPENDI

Artigo escrito pelo *Capitão Lauro Reis e publicado em 1948, no livro "Seleção de Seleções", uma coletânea de artigos publicados na revista "Seleções do Reader’s Digest".


"Deixamos o porto de Salvador, Bahia, às sete horas da manhã, rumando para o norte. Do Rio até ali o mar tinha estado calmo. Agora se apresentava picado, espumoso, com fortes marolas, e o velho Baependi arrastava-se, moroso, balançando desagradavelmente.

O vapor ia repleto — umas trezentas e cinqüenta pessoas, incluindo a tripulação e uma unidade do Exército, cujos componentes — oficiais e soldados — iam acompanhados de suas famílias, algumas com muitas crianças.

Como esse dia — 15 de agosto — era o aniversário natalício do comissário de bordo, um excelente homem, o jantar foi festivo, a orquestra tocou animadamente e a alegria reinou a bordo até bastante tarde. Enquanto no salão se dançava, lá fora na popa, os soldados, — quase todos cariocas — montados em canhões e grandes caixas, reunidos em grupos, tocando pandeiros e batendo em latas, cantavam seus sambas à moda do morro...

Noite fechada, as luzes todas apagadas, navegávamos a umas 20 milhas da costa, quando súbito um tremendo estampido sacode violentamente o velho barco. Quebram-se as vidraças; o madeiramento range, estala, racha e, arremessados por forças invisíveis, voam estilhaços de vidro e madeira para todos os lados. Caem as primeiras vítimas, e há diversas pessoas com o rosto sangrando, devido a ferimentos provocados por fragmentos de vidro.

As máquinas param, o vapor altera o rumo abruptamente, e somos jogados pela inércia, com força, para a frente.

O primeiro instante deixa todas as pessoas imóveis de espanto, a respiração suspensa, as fisionomias pálidas e angustiadas... Não há gritos; nenhum pânico. Percebe-se em cada um o esforço mental para entender o ocorrido, para buscar uma solução, pressentindo a gravidade do terrível momento...

Estou no vestíbulo, de onde partem as escadas para o deck superior e para os camarotes de baixo. Tomado de surpresa, tenho imediata intuição do sucedido: fomos torpedeados ! Logo a seguir, ouço o apito surdo do navio, pedindo socorro... O Baependi começa a adernar.

Corro ao meu camarote ali perto, empurro a porta, que felizmente não ficou emperrada, apanho rápido o meu salva-vidas, e saio.

Há muitas pessoas no vestíbulo; umas, principalmente mulheres e crianças, paradas, como se esperassem que uma providência alheia as salvasse; outras caminhando febrilmente, na direção em que julgam poder encontrar salvamento. O navio aderna mais e mais; só podemos andar, agora, agarrados às paredes.

Alguns descem com dificuldade as escadas para os camarotes inferiores, em busca de salva-vidas, ou para se reunir às suas famílias; infelizmente, para não voltarem mais... Ficarão na companhia dos que nem sequer conseguiram sair dali.

Vejo tudo isso de relance e, ainda enfiando o cinto salva-vidas, subo a escada para o deck de cima, em busca da minha baleeira; agarrado ao corrimão, chocando-me com pessoas que descem, aturdidas, estou quase no alto, quando um segundo torpedo explode, abalando fragorosamente todo o navio. O corrimão, ao qual me agarrava, fica feito em frangalhos, e rolo na escada, de costas, aos trambolhões, até a porta do refeitório, de onde saíra. Entre o primeiro e o segundo torpedos, não decorreram mais de trinta segundos.

As luzes se apagam; esbarramos uns nos outros, desorientados, no meio de profunda escuridão. O navio aderna consideravelmente, já sendo impossível, agora, andar de pé.

O segundo torpedo foi o tiro de misericórdia. O Baependi agoniza... Percebo que o afundamento vai ser rápido. Esforço-me por sair do interior. Um cheiro sufocante e enjoativo, proveniente da explosão, invade tudo.

Tateando, com grande esforço consigo agarrar-me à escada e, de restos, segurando-me nas saliências, vou subindo devagar.

Na escuridão, apenas distingo, numa pequena claridade vinda de fora, o contorno de uma porta, ao fim da escada que tento subir. É preciso atingí-la a todo custo, porque senão eu afundarei dentro do navio. Mais um esforço e consigo chegar.

O navio, nesse momento, está quase de lado: o que era parede passou a ser chão. Atravesso aquela porta com os movimentos de quem, pela abertura do teto, passa para o forro de uma casa.

Alcanço a baleeira em frente à porta. Presa aos turcos, num emaranhado de cordas, alguns marinheiros tentam soltá-la. Não trocamos palavra. Começo a ajudá-los, procurando desvencilhar cordas, febrilmente.

Mas é inútil: o Baependi continua a afundar-se vertiginosamente ! As ondas revoltas quase nos atingem e ouço, bem perto, os gritos pungentes dos que já lutam com elas.

Compreendo, então, que devo atirar-me imediatamente ao mar, para não ser arrastado pelo turbilhão que faria a massa do navio ao submergir. Mas já é tarde demais, porque, estando ele quase horizontal, se eu der um salto, cairei, conforme o lado, sobre o casco ou sobre o convés. Ouço ainda o apito tenebroso do vapor, um apito surdo e contínuo, agonizante, de estertor.

As águas me envolvem violentamente, jogando-me de encontro a uma parede. Depois... sinto que mergulhamos, arrastados pelo navio.

Penso, conformado, na morte: deste mergulho não voltarei, certamente ! Não perco o raciocínio, nem me deixo dominar pelo desespero. Antes me conservo calmo, resignado, enfrentando o desfecho da vida. Continuo a merguIhar, a mergulhar... Quantos metros ? Nem sei ! Sinto nos ouvidos o barulho forte e característico das bolhas de ar, numa escala cromática extravagante, que vai num crescendo do grave para o agudo, à proporção que me aprofundo nas águas... A falta de ar já me tortura; começo a engolir água...

Súbito, porém, paro de mergulhar, e percebo que vou voltando. Mas sou, então, violentamente imprensado entre dois volumosos fardos, e tenho a sensação de que vou ficar esmagado. Inexplicavelmente, não sinto nenhuma dor. Por felicidade, fico de novo livre, e continuo a voltar, aos trancos, à superfície, recebendo pancadas pelo corpo, agora mais rápido — cada vez mais rápido — até que, de repente, dou um salto, saindo-me fora d'água o tronco todo, tal o empuxo.

O navio está completamente submerso. Imagino que não deve ter levado a afundar-se mais de três ou quatro minutos, tornando impossível qualquer providência de salvamento, ou a descida de qualquer das baleeiras.

O mar, violentíssimo, encapelado, está coberto de destroços e, não sei como, ainda caem paus de todos os lados, como estilhaços.

Ouço gritos terríveis, angustiosos, de socorro, e vejo homens, mulheres e crianças se afogando em torno de mim.

Nado um pouco e me agarro a uns paus que flutuam, e que as fortes ondas me arrancam logo das mãos; imediatamente me seguro noutros, mas também não consigo sustê-los, e fico nesse jogo, pulando de uma tábua para outra, durante algum tempo.

Reparo que há sobre as águas duas luzes avermelhadas, como archotes, a iluminar aquela cena macabra: são bóias de iluminação, que se acendem automaticamente, ao contato com a água.

O mar limita-me a visão, e só quando me elevo numa onda melhora o meu horizonte. Em dado momento, avisto com surpresa um projetor lançando seu feixe luminoso sobre o local do sinistro: firmo o olhar e diviso, iluminado pelas luzes que dançam na água, o perfil do submarino assassino, bem próximo de nós, contemplando os resultados da sua bárbara missão ! Em seguida, perco-o de vista...

Estou agora junto de uma grande tábua branca, com aberturas que me parecem janelas: consigo com facilidade deitar-me nela, de bruços, e me sinto mais bem acomodado. Pelo menos descanso um pouco. Mas me agarro com todas as forças, para que as ondas não me arranquem dali.

Perto de mim, alguém grita em desespero, já quase a perder o fôlego:

— Não posso mais, vou desistir...

Animo o companheiro, chamando-o para junto de mim, e isso me dá mais animo! Ele se aproxima, e com algum esforço se agarra à minha tábua: vem ofegante, exausto. Trocamos algumas palavras. É um tripulante do Baependi.

As ondas violentas e o forte vento começam agora a espalhar náufragos e destroços; os gritos dispersos de socorro chegam cada vez de mais longe. Somos também impelidos para longe do local do sinistro, arrastados naquela tábua, em rumo desconhecido.

Conjugando nossos esforços, examinamos o mar em todas as direções. Nada ! Provavelmente nenhuma baleeira pôde ser lançada ao mar. Nossa salvação é provisória, sem dúvida... E ficamos vogando ao sabor das ondas por um tempo difícil de estimar: talvez meia hora, uma hora... Ouvem-se agora menos gritos de socorro: a maioria sucumbiu, desesperada !

Mas, repentinamente, divisamos uma silhueta que não é de um destroço, passando defronte das bóias de iluminação, já bem longe. Parece-nos uma baleeira... Dentro, um vulto, de pé... Não resta dúvida, é uma baleeira ! Mas está muito distante. Para alcançá-la, teríamos que nadar contra o vento e as ondas e, cansados como estamos, isso não nos parece empresa fácil.

Começamos então a gritar, com todas as forças dos nossos pulmões. Grito, grito ! Lembro-me de gritar meu nome, e o faço diversas vezes. Lembrança talvez salvadora: ouvimos, pouco depois, uma resposta que nos pareceu "espera"... Graças a Deus, tinham-nos ouvido, e remam em nossa direção ! Foi o primeiro alento, a primeira sensação de poder sair com vida daquela pavorosa catástrofe.

A baleeira se aproxima. Abandonando a benfazeja tábua, damos umas braçadas, lançam-nos uma bóia presa a uma corda, e somos içados para bordo, onde encontro dois tenentes, dois sargentos e três soldados, da minha unidade. Abraçamo-nos, comovidos, mas poucas palavras trocamos. Pensamos na sorte dos outros camaradas, e não nos conformamos com a idéia de que somos os únicos sobreviventes.

É talvez esta a única baleeira que escapou ao desastre, arrancada dos turcos pela violência da explosão.

Recolhidos mais alguns náufragos, somos ao todo vinte e oito. Entre eles, há uma moça que, mal explodiu o torpedo, lançou-se resolutamente ao mar, nadando, agarrada a um pequeno destroço, durante mais de uma hora!

Mas em que direção ficará a costa ? Não podemos orientar-nos com segurança, pois mal se vêem as estrelas, e a escuridão impede-nos de consultar a única bússola, que corria de mão em mão, inutilmente.

Mas entre os náufragos está, felizmente, o piloto do Baependi. Recobrando as forças, ele resolve com simplicidade o problema da navegação, mandando "remar na direção do vento, pois o mesmo soprava para terra".

Somente na baleeira noto que estou ferido. O sangue jorra abundantemente do meu rosto, e, levando a mão à face direita, percebo que sofri uma fratura. Mas não sinto nenhuma dor.

A pequena embarcação joga como uma casca de noz naquele mar agitado e de vez em quando uma onda mais forte invade-a; um grande rombo da proa aumenta a nossa inquietação; é preciso baldear continuamente a água, tal a quantidade que entra.

O vento é cortante, sentimos um frio tremendo, uma sede desoladora, e o enjôo apodera-se da maioria.

Pouco depois avistamos, não muito longe, um navio iluminado. Ficamos hesitantes: valerá a pena remar na sua direção ? Alcançá-lo-emos ? Desistimos da idéia, o que foi providencial, pois cerca de uma hora depois, ouvimos o eco de uma tremenda explosão, que nos pareceu um trovão longínquo: o navio que passara por nós — o Araraquara, soubemos depois — fora também torpedeado !

Navegamos assim, impelidos pelo vento e pelos remos, durante toda a noite — que nos parece interminável. Os rapazes, incansáveis, se revezam nos remos e os outros no balde de água.

Ao clarear o dia, ainda na penumbra, temos uma explosão de contentamento: a uns dois quilômetros de nós, percebemos a faixa branca de areia de uma praia ! Mais umas remadas, a manobra para vencer a forte arrebentação, e eis-nos em terra firme. Nossos corações pulam de alegria !

A praia, desabitada, é formada por vastas dunas de areia, onde os pés se enterram, agravando nosso cansaço. Caminhamos algum tempo, seguindo uma pequena trilha, até avistarmos uma cabana onde apenas encontramos água.

Felizmente, indicam-nos uma picada que vai ter a uma povoação. Andamos até o meio-dia, ou antes, arrastamo-nos, pois há diversas pessoas feridas, e outras esgotadas. Por sorte encontramos muitos coco-da-baía, cuja água saborosa bebemos sofregamente.

Ao chegarmos à povoação, todas as portas e janelas se batem, violentamente ! "Que teria havido ?" Consultamo-nos, surpresos... Estamos tão embrutecidos, que nos custa a compreender: a nossa nudez quase total ofendeu o pudor da gente da terra ! Um parlamentar, que enviamos em trajes mais decentes, resolve a situação, e recebemos algumas roupas usadas, que nos permitem improvisar tangas.

Depois de alimentados, seguimos de canoa para Estância, no Estado de Sergipe, termo das nossas provações. Ali soubemos, mais tarde, terem chegado à praia, numa pequena balsa de madeira, mais oito náufragos do Baependi. Trinta e seis sobreviventes — eis o que restava !

Quase todos os nossos camaradas tinham sido tragados pelas ondas. E quando um médico, náufrago também, nos relatou o episódio da morte do mais jovem dos nossos companheiros de armas, não pudemos conter as lágrimas. Ao atirar-se ao mar, sem salva-vidas, certo do fim que o aguardava, o Tenente Assunção lançara em voz vibrante este grito derradeiro de patriotismo:

— "Viva o Brasil!"



*O Capitão Lauro Moutinho dos Reis, oficial de artilharia do Exército Brasileiro, fazia parte de uma unidade(7º GAdo) que viajava no Baependi para o Nordeste, quando na noite de 15 de agosto de 1942, o navio do Lóide brasileiro foi atingido por dois torpedos na altura da fronteira entre Bahia e Sergipe, fato que, ao lado dos outros quatro torpedeamentos efetuado pelo U-507, suscitou a onda de revolta nacional que levou o Brasil entrar efetivamente na Segunda Guerra contra as potências do Eixo.
Das 323 pessoas que estavam a bordo do Baependi, apenas se salvaram 18 passageiros e 18 tripulantes.

O Arará, o último navio a ser torpedeado pelo U-507




O Arará foi um navio construído na Inglaterra em 1907, para servir como um navio de carga. Na costa da Bahia, cerca do meio-dia, de 17 de agosto de 1942 ele foi afundado pelo U-507, no momento em que seus tripulantes salvavam as vítimas do Itagiba, que também havia sido torpedeado pelo U-507.

Quando o Arará foi torpedeado, as suas máquinas se encontravam paradas e com duas baleeiras arriadas...

Dos 35 tripulantes do Arará, salvaram-se 15 e pereceram 20 homens...

E dos náufragos do Itagiba que já se encontravam salvos a bordo do Arará (18 pessoas), uns tantos se salvaram e outros desapareceram, quando o navio cargueiro foi atingido por um torpedo...

O Arará estava sob o comando do capitão José Coelho Gomes...

Em homenagem ao cargueiro, um avião da FAB foi batizado de Arará, era um Catalina PBY-5, que se tornaria no primeiro avião brasileiro a afundar um submarino do Eixo, ao largo da costa do Rio de Janeiro em 31 de julho de 1943: era o U-199.

Um relato de um sobrevivente do ataque ao Itagiba




Um relato sobre o torpedeamento do Itagiba

Por Pedro Paulo de Figueiredo Moreira( é ex-combatente, tendo servido o Exército brasileiro na campanha da Itália)


"(...)Embarcamos no dia 13 de agosto de 1942, às 13 horas, no armazém 13 do Cais do Porto do Rio de Janeiro, no navio Itagiba, com destino a Olinda, em Pernambuco. O navio conduzia 119 passageiros, entre militares, senhoras, crianças e a tripulação.
A partida de Vitória para a Bahia aconteceu no dia 15, às 16h da manhã. Até o amanhecer do dia 17, fazíamos boa viagem, sem nenhuma ocorrência anormal. Ao chegarmos a altura do farol de São Paulo, mais ou menos a 30 milhas de Salvador, às 10 horas e 50 minutos do dia 17, no momento em que estávamos almoçando, fomos surpreendidos por uma violenta explosão e o estremecimento geral do navio, o que determinou a queda de objetos que se encontravam nos camarotes, além da quebra de vidros etc. Ouvíamos: “Fomos torpedeados, vamos para as baleeiras!” Grande parte do navio ficou em destroços.

A princípio não sabíamos bem do que se tratava, mas, logo, foi constatado tratar-se de torpedeamento. Estabeleceu-se, naquele momento, pânico a bordo, correria de um lado para outro, em busca de salva-vidas e em direção às baleeiras, das quais poucas foram retiradas dos picadeiros e lançadas ao mar. Só houve uma explosão em baixo da escotilha do porão número 3, a boreste, e não se viu a unidade inimiga devido a inclinação do navio que adernava. Afundaríamos em cerca de dez minutos, enfrentando uma forte ventania e um mar muito agitado.

Quando nos esforçávamos para sair do navio, a baleeira caiu em cima do convés, encostando-se à chaminé. Gritos eram ouvidos para que os passageiros buscassem salvamento de qualquer modo, pois o navio já começava a sua inclinação vertical. Eu, particularmente, fui tomado de tremendo medo que chegou ao ponto de transformar-se em total desprendimento, pois criei coragem para lançar-me ao mar como a única alternativa de salvamento.

Ao saltar, fui puxado pela sucção das águas provocada pelo afundamento do navio, tendo sido arrastado a grande profundidade, voltando à tona, após muito esforço, segurei-me em um pedaço de madeira, a fim de descansar e adquirir forças para nadar em direção a uma das baleeiras que já se encontrava afastada do local da tragédia.

Assisti cenas que jamais pensei de presenciar na minha vida durante o tempo em que estive abraçado aos destroços do navio. Vi companheiros meus serem puxados por tubarões, dando gritos de dor e desaparecendo; outros mais fracos, perderam o juízo diante de tanta barbaridade, proferindo frases sem nexo, tais como: “Eu quero café”; “Espere minha mãe”; “Vou a pé” e desapareciam na profundeza do mar.
Após presenciar esse espetáculo desesperador, nadei em direção a uma das baleeiras.

Devido à superlotação, a baleeira tombou lançando muita gente ao mar pela segunda vez, inclusive eu. Após algumas horas de pavor e nervosismo, surge um iate, parece-me, enviado por Deus, o Aragipe, que presenciara o naufrágio do nosso navio e viera em nosso socorro, recolhendo a bordo todas as vítimas, levandonos para a cidade de Valença, na Bahia.

Nessa localidade, os feridos foram levados ao hospital e os náufragos restantes colocados em casas de família, gentilmente oferecidas pelos moradores, como também nos salões da Prefeitura.

Ao chegarmos em terra, foi imediatamente organizada a lista dos sobreviventes, notando-se a falta de onze tripulantes, inclusive o comandante. Este apareceu no dia seguinte, acompanhado de um taifeiro. Os passageiros desaparecidos, naquele momento, eram cerca de 25. Hoje, sabemos que, naquele triste naufrágio, perdemos

36 brasileiros e, naquela mesma hora, próximos a nós, mais vinte, com o torpedeamento do Arará.Após mais ou menos três dias, fomos para Salvador num navio de guerra, o cruzador Rio Grande do Sul. Chegamos a Salvador no mesmo dia e nos alojamos no Forte Barbalho, onde ficamos até seguir destino para Olinda, como previsto.

No naufrágio do navio Itagiba, destaco duas figuras realmente excepcionais: O Tenente Alípio de Andrada Serpa e o nosso soldado Walter Silero Fix. Não posso deixar passar essa oportunidade sem ressaltar o heroísmo e bravura daquele jovem oficial do nosso Exército, o valente Tenente Serpa, que soube, no momento do bárbaro e covarde atentado, portar-se como verdadeiro líder, atento e atuante, dotado de exata noção do cumprimento do dever.

No desejo de salvar a todos os seus comandados, morreu tragado pelo oceano, vítima da ação, cruel e covarde, dos nazistas. O desassombro do Tenente Alípio Serpa, brioso oficial do nosso glorioso Exército, ficou como um belo exemplo para todos os brasileiros. Eu estava correndo, transtornado, em busca de um salva-vidas, vendo-me, deu-me o seu, dizendo: “Calma seu Figueiredo, muita calma!” quando, então lhe disse: “Este é seu, Tenente. O senhor não vai deixar o navio?” Respondeu-me: “Sairei depois de todos os meus soldados, fique com o salva-vidas.” Sinto-me feliz por poder, publicamente, demonstrar minha gratidão pela sua impressionante solidariedade humana em tão trágico momento.

Não seria justo também deixar de enaltecer o nome do meu velho amigo, hoje falecido, soldado Walter Silero Fix, pelo belo gesto heróico e de amor ao próximo, salvando a menina Vera Beatriz, filha do Capitão Tito Canto, tomando-a nos braços e só a deixando em terra firme. Ele obteve o respeito e a admiração de todos com aquela atitude!(...)"

FONTE: História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial

Leia o relato na integra no link abaixo:

http://www.anvfeb.com.br/ten_Pedro_Paulo_2.htm


Obs: O Itagiba levava na ocasião de seu naufrágio, 179 pessoas( 60 tripulantes e 119 passageiros), das quais foram assassinadas, 39.

A ação terrorista do U507 em agosto de 1942





U-507: Um estudo interpretativo das ações de um submarino alemão nas águas do Brasil

Por Elísio Gomes Filho


Dedicado as vítimas do U-507

“O mérito do historiador não é se passar por profundo, mas saber em que simples nível funciona a história; não é ter uma visão elevada ou mesmo realista, mas julgar bem as coisas medíocres”.
(Paul Marie Veyne)


“Terminou assim a campanha submarina. Prenhe de sacrifício e coragem, honrosa e
sem mácula, foi a conduta das guarnições durante a batalha. De, aproximadamente,
38 000 homens que compunham a arma
submarina, 30 000 foram perdidos. Em
compensação, seus êxitos foram sem par.
De acordo com dados inimigos, foram
afundados mais de 2 000 navios, ou sejam,
pelo menos 14 milhões de toneladas...”

Almirante Karl Doenitz



As palavras do almirante Karl Doenitz escritas em louvor aos atos perpetrados por seus obstinados subordinados na guerra submarina, obviamente não correspondem com a realidade e nem poderia ser de outra maneira, já que a guerra submarina tende a se deteriorar rapidamente. É bem verdade que uma de suas funções, é a de matar não somente marinheiros e destruir navios, mas a vontade moral de um país de continuar a luta, de modo que a devotada campanha dos U-Boote se inseriu na Tonnagekrieg, isto é, na estratégia da guerra da tonelagem, pela qual, os alemães objetivavam tirar dos Aliados a franca capacidade de poderem transportar pelos oceanos matérias primas, o que incluía petróleo necessário ao esforço de guerra, bem como material de guerra, munições e efetivos militares.

Contudo, a guerra submarina, em ambos os lados, foi praticada sob forma atroz, cruel e muitas vezes, criminosa. Diga-se de passagem, que poucas tentativas foram feitas por submarinos dos Aliados para salvarem inimigos sobreviventes depois que os navios haviam sido afundados. E houve até um comandante de um submarino norte-americano, que depois de ter torpedeado um navio japonês, ordenou que seus subordinados atirassem em todos os sobreviventes, que se debatiam no mar. Assim, no Tribunal de Nuremberg, os advogados de defesa, tentaram tirar o máximo partido de uma afirmação: tu quoque (“você é outro”), considerando que, entre os crimes denunciados, havia pelo menos alguns igualmente cometidos pelos Aliados. Estritamente falando, a culpa semelhante, suposta ou comprovada, de outra pessoa, nunca pode ser admissível como defesa legal válida, mas seu efeito moral e psicológico pode ser considerável. Isto deve ter pesado muito em favor dos almirantes Doenitz e Raeder, uma vez que ambos tinham sido acusados de “fazer guerra submarina irrestrita”, e ambos foram absolvidos dessa acusação, alegando-se que a Grã-Bretanha e os EUA haviam reconhecidamente feito a mesma coisa.

Nos meses intermediários entre seu rompimento de relações diplomáticas e sua declaração de guerra, o Brasil estava, em face da Alemanha e Itália, numa situação que poderíamos chamar, bastante apropriadamente, de quase-beligerância. Mas o que foi feito no mar costeiro brasileiro, desonra a conduta do almirante Doenitz e torna-o culpado de haver cometido crime de guerra?

Através das próprias palavras daquele oficial alemão, poderemos acusá-lo de crime de guerra, sem sermos taxados de tendenciosos, uma vez que ele não esconde o seu desejo de praticar um ato de represália contra o Brasil. Para nós, não é difícil expor que Doenitz tentou justificar a ação terrorista e criminosa cometida pelo U-507 através de uma ambigüidade sem igual. Como então constataremos mais à frente, ao mesmo tempo, que ele, Doenitz confessa que a ordem do deslocamento de um único submarino para atacar navios brasileiros (os quais ele sabia de antemão que seriam navios de navegação doméstica) partiu de sua boca, contudo dilui a sua responsabilidade pessoal, ao registrar que tal ataque seria para “agir de acordo com as instruções recebidas”, com a cooperação do seu ministro do Exterior, quando na verdade, Joachim von Ribbentrop, veio autorizar ações somente ao “largo do Brasil”, zona aonde obviamente não se encontrariam navegando navios das linhas de cabotagem no transporte de passageiros.

De modo que Doenitz não preza por dizer a verdade, ao revelar que o seu submarino afundou cinco navios nacionais “fora das águas territoriais brasileiras”. Faz-se necessário revelar, que pelo decreto 5.798 de 1940, o mar territorial brasileiro tivesse a largura de apenas três milhas, mas as atividades anteriores dos submarinos do Eixo no Atlântico Sul sempre se fizeram em zonas bem distantes da estreita faixa de águas territoriais brasileiras, isto é, efetuavam seus ataques exatamente ao “largo do Brasil”, procurando atingir a navegação de longo curso, assim como os navios de guerra das nações aliadas. Ora, um dos mais completos, estruturados e conhecidos wibe-site sobre submarinos e submarinistas alemães (Uboat.net), propaga aquela inverdade advinda do sucessor de Hitler, o comandante da Força de Submarinos, o último comandante-em-chefe da Marinha alemã, o qual ordenou o assassinato de brasileiros indefesos.

Seria uma ação de terrorismo ou uma ação bélica?

A região marítima ao “largo do Brasil” era secundária em termos de fluxo marítimo, ou seja, as zonas distantes da costa brasileira não possuíam representatividade marítima comparável com a região da costa leste dos EUA (região aonde aconteceram quase 70% das perdas hemisféricas no primeiro trimestre de 1942), do Golfo do México e do Caribe, ou seja, a guerra submarina contra o comércio marítimo dos Aliados foi travada em um cenário principal. Contabiliza-se que no período de janeiro a junho de 1942, 325 navios foram afundados no litoral e ao largo das Américas, quase a totalidade dos quais na porção norte do hemisfério. Em outras palavras, o Atlântico Sul era um teatro secundário para as operações submarinas do Eixo (é importante frisar que durante todo o ano de 1942 nenhum submarino do Eixo foi afundado ao largo do litoral do Brasil), de modo que se conclui que a guerra submarina travada ao sul do continente americano pouco interesse desperta entre os pesquisadores estrangeiros, mas não sabem eles, ou não tem interesse em saber que as ações dos submarinos do Eixo no Atlântico Sul, fossem travadas em zonas afastadas do litoral, fossem travadas próximo deste, deixaram marcas profundas e indeléveis, antes e depois da declaração de guerra do Brasil. Por exemplo, os torpedeamentos dos navios mercantes Baependi, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará, que ocorreram entre 15 e 17 de agosto de 1942, se constituíram em um dos episódios mais dramáticos da História do Brasil. As atrocidades que foram planejadas e que vieram a serem praticadas por um só submarino, que atuou sob a bandeira da cruz suástica, motivaram grande e furiosa reação popular e levou o país a declarar guerra à Itália e à Alemanha. Trata-se então de atos por demais sérios para não guardarmos nenhuma dúvida sobre suas reais motivações e autoria.

Seria uma violência criminosa armada ou uma ação bélica?

O Brasil sob o governo ditatorial de Vargas, por sua posição geográfica estratégica oferecida pela costa Norte e Nordeste e por ser potencialmente exportador de uma variada gama de matérias-primas de grande valor imprescindíveis à indústria e mobilização bélica norte-americana e por outros fatores de interesse dos EUA - pressionado por todos os lados, mas tendo previamente assegurado seus interesses econômicos e militares – optou por escolher em trilhar o temerário caminho ao lado do governo de Roosevelt, o qual tenazmente se colocou contra os objetivos políticos e estratégicos das potências do Eixo. Não há como negar: a Segunda Guerra Mundial é o ponto de virada na história das relações entre o Brasil de Getúlio Vargas e os EUA de Roosevelt. No mês de janeiro de 1942, não havia mais dúvida de que o Brasil sob a ditadura do Estado Novo passaria a acompanhar o manto democrático-liberal dos EUA na luta contra o totalitarismo nazi-fascista. E as palavras do embaixador alemão, Pruefer, dirigidas ao chanceler Oswaldo Aranha deixou bem claro o que aconteceria se o Brasil rompesse relações com as potências do Eixo:

“(...) significaria, indubitavelmente, o estado de guerra latente, acarretando provavelmente ocorrências que equivaleriam à eclosão da guerra efetiva”.

Portanto quando em 24 de maio de 1942, o comandante do U-502 comunicou que havia afundado no Caribe um navio mercante brasileiro que se encontrava artilhado - o Gonçalves Dias - e quando a partir do dia 27 do mesmo mês, o Ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, veiculou, uma notícia de que seus aviões haviam atacados sem declaração de guerra, submarinos do Eixo, a Marinha alemã solicitou que fossem levantadas todas as restrições para ataques a navios brasileiros. A Alemanha, tal como os EUA e a Grã-Bretanha - com uma liderança militar, indisfarçadamente desejosa de sangue, e portadora de uma vingatividade viciosa e de atitudes irracionais, sobre as quais nos deu vários exemplos, seja na Batalha do Atlântico, ou em outros teatros de operações navais e terrestres - não era para levar uma bofetada na face de um país militar e politicamente fraco, sem uma dura resposta de retaliação. Logo, os navios de navegação doméstica brasileiros se tornariam alvos da violência criminosa armada, desproporcional, feita em nome de uma reação punitiva. Os civis brasileiros pagariam caro pela ousadia praticada pelos aviões do Ministério da Aeronáutica, o qual foi criado em 20 de janeiro de 1941, isto é, a FAB fora instituída exatamente sob as circunstâncias do franco envolvimento do governo brasileiro ao lado dos EUA na luta contra o Eixo.

Naquela conjuntura, era Brasil um país pacífico?

No dia 7 de agosto de 1942, Doenitz tomou uma decisão que mudaria a História Contemporânea do Brasil: o U-507 recebeu por rádio a mensagem para usar “manobras livres” ao longo da costa brasileira. De modo que o submarino comandado pelo capitão-de-corveta Harro Schacht, afundou cinco navios brasileiros de cabotagem nos litorais de Sergipe e Bahia, acarretando a morte de 652 pessoas, inclusive de mulheres e crianças. No Baependi, todas as crianças foram mortas, apenas um garoto de dezesseis anos se salvou. Diga-se agora e a bem da verdade que a grande mortandade ocorrida nos afundamentos do Baependi, do Araraquara e do Aníbal Benévolo foi devido ao tipo de ataque desfechado pelo comandante Schacht, pois, lançando dois torpedos um após outro, seja ele (o tipo do ataque), como outros o queiram uma opção “puramente técnica” a fim de concluir com “êxito a sua missão”; mas em nossa opinião, o que fez o comandante do U-507, foi uma ação desumana e criminosa, pois levou aqueles navios ao fundo em questões de minutos e isso debaixo de uma noite escura e de um mar revolto. Em outras palavras, a totalidade dos tripulantes e passageiros daqueles navios, devido à “máxima eficiência” do comandante do U-507, não teve a oportunidade de abandonar os navios devido ao rápido afundamento.

O capitão-de-corveta Schacht sabia mais do que ninguém que lançando um torpedo após outro, viria causar o maior número de vítimas fatais entre os passageiros dos navios brasileiros. E voltamos a repetir, em nossa opinião, não se tratou de uma ação bélica, mas foi uma ação revestida de uma violência criminosa armada, desproporcional, feita em nome de uma reação punitiva. Cabe, portanto, revelar que vários comandantes dos U-Boote procuraram agir com mais humanidade (ou como outros o queiram, com a “mínima eficiência”), na guerra submarina, já que muitos decidiam atingir os navios inimigos com um só torpedo, a fim de dar tempo para que seus ocupantes chegassem aos barcos salva-vidas, tal como se deu com a maioria dos navios brasileiros atacados antes de agosto de 1942. Mas esta não foi à conduta tomada pelo capitão-de-corveta Harro Schacht, ao atacar os três referidos navios. É bem verdade que não sabemos se aquele tipo de ataque partiu dele ou se foi uma imposição superior, mas seja como for, para se ter uma idéia da dimensão das atrocidades praticada pelo U-507, somente uma baleeira do Baependi (o qual, segundo o depoimento de um radiotelegrafista, o navio afundou “com o espaço de um e meio minuto”), atingiu a costa no dia seguinte, com 28 sobreviventes. E apenas oito náufragos, agarrados em destroços de madeira, lograram alcançar a terra dois dias após o ataque. Portanto, das 305 pessoas que estavam a bordo do famoso navio do Lloyd Brasileiro, pereceram 269. Já entre os 142 ocupantes do Araraquara (o qual demorou cinco minutos para afundar), 131 morreram. Tanto pior, ocorreu com o Aníbal Benévolo (perdeu-se em dois minutos), pois morreram todos os seus 83 passageiros e apenas quatro dos 71 tripulantes, sobreviveram. Foi uma matança sem igual, porquanto até fins de julho de 1942, a Marinha Mercante brasileira de longo curso que tinha perdido treze navios, totalizava 135 vítimas fatais.

Obviamente, os massacres cometidos pelo U-507, provocaria grande consternação entre o povo brasileiro. A indignação pública foi geral. Em várias cidades houve violentas manifestações populares contra súditos do Eixo e suas propriedades. E talvez entre todos os estados, foi a população de Sergipe quem mais se excedeu, já que muitos dos passageiros e tripulantes do Aníbal Benévolo, lá tinham parentes. Tanto o governo autoritário do Estado Novo quanto a opinião pública que vivia manietada pelo DIP, consideraram indispensável uma reação. O Brasil seria lançado definitivamente na Segunda Guerra Mundial. No Rio de Janeiro, a notícia, divulgada no dia 18 de agosto, desencadeou uma série de passeatas e comícios populares, onde os cariocas não exigiriam outra coisa, senão: retaliação. No fim da tarde, uma massa popular se dirigiu para o Palácio do Itamaraty - sede do Ministério das Relações Exteriores - clamando pelo chancelar Oswaldo Aranha, que apareceu na sacada do edifício para exclamar:

“A situação criada pela Alemanha, praticando atos de beligerância, bárbaros e desumanos contra a nossa navegação pacífica e costeira, impõe uma reação à altura dos processos e métodos por eles empregados contra oficiais, soldados, mulheres, crianças e navios do Brasil. Posso assegurar aos brasileiros que me ouvem, como a todos os brasileiros, que, compelidos pela brutalidade da agressão, oporemos uma reação que há de servir de exemplo para os povos agressores e bárbaros, que violentam a civilização e a vida dos povos pacíficos”.

Mas em verdade, desmentindo as palavras revanchistas daquele chanceler, o Brasil estava longe de ser um país pacífico, vide o que a FAB já estava praticando em maio de 1942, ao procurar deliberadamente atacar os submarinos italianos que estavam posicionados ao largo da costa nordeste brasileira. Em outras palavras, o Brasil, após o rompimento de relações com o Eixo, fornecia aos norte-americanos, conforme esclarece Gerson Moura, “apoio político, materiais estratégicos, bases e rotas aéreas, patrulhas aéreas e navais” e a eliminação da Quinta Coluna nazista.

As memórias equivocadas de Doenitz

Como dito acima, em agosto de 1942, o Brasil já estava em beligerância não declarada com o Eixo, mas sobre o acontecimento que obviamente chocaria o Brasil, o almirante Karl Doenitz, em suas memórias, veio assim relatar:

“Finalmente, havia a possibilidade de operações ao largo da costa do Brasil. Nossas relações políticas com aquele País vinha há já algum tempo cada vez mais se deteriorando e as ordens emitidas pelo Alto Comando Naval referente à nossa atitude para com a navegação brasileira se agravaram em correspondência (...) Depois que o Brasil rompeu relações diplomáticas, seus navios continuaram a serem tratados da mesma maneira que os de todos os outros Estados neutros, desde que fossem reconhecidos e agissem como neutros, de acordo com a Convenção Internacional. No entanto, entre fevereiro e abril de 1942, os U-Boote torpedearam e afundaram sete navios brasileiros, com todo direto de fazê-lo de acordo com o estabelecido na Convenção de Praças de Guerra ( Prize Ordenance), desde que os capitães dos U-boote não puderam reconhecer suas identidades de neutros. Estavam navegando sem luzes em curso de zigue-zague, alguns deles armados e alguns pintados de cinza e nenhum deles ostentavam uma bandeira ou signo de sua identidade de neutro. Depois disso mais e mais navios brasileiros montaram canhões até que toda sua Marinha Mercante estava armada”.

Aqui, é preciso, interrompermos Doenitz, para afirmar que as informações fornecidas por ele não correspondem com a verdade, o que em nossa opinião, demonstra falta de senso de honra e coragem moral daquele almirante alemão, uma vez que ele bem sabia que os três primeiros navios afundados em fevereiro de 1942 (Cabedelo, Buarque e o Olinda), navegavam com as luzes de bordo e de navegação acesas, assim como estavam iluminadas as bandeiras do costado e da popa, bem como a chaminé que identificava a nacionalidade e a companhia proprietária. E infelizmente, depois dessas investidas por parte da ressentida Alemanha contra os interesses das elites econômicas, políticas e militares, brasileira e norte-americana, que o governo varguista junto com o governo de Roosevelt, tomou medidas para tentar evitar que os barcos nacionais fossem afundados tão facilmente, de modo que os mercantes brasileiros passaram realmente a navegar como se não pertencessem a uma nação neutra. Assim, o quarto mercante a ser atacado e afundado pelo U-155 - o Arabutã - estaria pintado de cinza, estaria navegando às escuras e sem bandeira, isto é, estaria em situação bastante irregular e comprometedora.

E foi após a perda do Cairú, atacado pelo U-94 (o quinto da série, que veio gerar a morte de 53 pessoas devido ao mau tempo que colheu os náufragos nas baleeiras) que também navegava camuflado e viajava às escuras ao largo da costa leste dos EUA, que os navios mercantes brasileiros começaram a serem dotados de um sistema de defesa, dispondo de uma peça de artilharia. Assim, o Parnaíba, o sexto navio torpedeado no dia primeiro de maio de 1942 pelo U-162, trazia na popa um canhão de 120mm. Entrava-se então numa dialética de ação e reação de atos de beligerância.

Ele confessa: dele, partiu a ordem para o comandante do U-507 matar e destruir


Voltemos ao relato de Doenitz:

“No fim de maio, o Ministro da Aeronáutica brasileiro anunciou que um avião brasileiro tinha atacado submarinos do Eixo e que continuaria a fazê-lo. Sem nenhuma declaração formal, achamo-nos assim num estado de guerra com o Brasil, e a 4 de julho os U-Boote receberam permissão dos nossos líderes políticos de atacarem todo os navios brasileiros”.

Aqui igualmente é necessário interrompermos Doenitz, porém para corroborar com o que ele registrou, já que o pesquisador alemão Jurgen Rohwer, veio revelar em uma palestra proferida na Escola de Guerra Naval em 28 de março de 1982 (Operações Navais da Alemanha no litoral do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial) que “como represália pelo ataque de aeronaves brasileiras contra os submarinos alemães e a instalação de armamento a bordo dos navios mercantes brasileiros, novamente informado pelo U-203, após o afundamento do Pedrinhas, em 26 de junho, ao norte das Antilhas, em 4 de julho o ataque sem advertência a todos os navios brasileiros foi permitido”. Mas em verdade, a maioria dos ataques aos navios mercantes brasileiros de longo curso, sempre se fizeram sem advertência, mas com relação “a todos os navios brasileiros”, passariam então a serem incluídos também os navios de navegação doméstica, ou seja, aqueles que transportavam passageiros, nas linhas de cabotagem?

De novo, com a palavra, Doenitz: “Na primeira semana de julho, quando estávamos planejando as primeiras operações dilatadas de U-Boote, perguntei ao Ministro do Exterior se haveria alguma objeção às planejadas operações ao largo do estuário do Rio da Prata, área de reunião para os navios-frigoríficos que eram tão importantes no suprimento de carne da Inglaterra. Sem considerar a opinião da Argentina, o Ministro do Exterior negou permissão para qualquer operação ao largo das costas daquele País, mas não fez objeção à continuação de nossas atividades ao largo do Brasil, que haviam sido permitidas em maio e que estavam em progresso desde então. Decidi, portanto, mandar, em associação com as operações planejadas contra o tráfego de navios Norte-Sul ao largo de Freetow, mais um barco para a costa brasileira. Do outro lado do estreito entre a África e a América do Sul, o U-507(Tenente-Comandante Schacht) estava operando. Ali fora das águas territoriais, ele afundou cinco navios brasileiros. Nisto ele agia de acordo com as instruções expedidas, com a cooperação do Ministro do Exterior, pelo Quartel-General das Forças Armadas. O Governo brasileiro tomou o afundamento destes navios como ocasião para declarar guerra à Alemanha. Embora isto não tivesse em nada alterado nossas relações existentes com o Brasil, que já havia tomado parte em atos hostis contra nós, foi sem dúvida um erro levar o Brasil a uma declaração oficial; politicamente deveríamos ter sido melhor, aconselhados para evitar tal fato. O Comando de Submarinos / Departamento de Operações, porém, e o capitão do U-Boot envolvido como membros das Forças Armadas, não tinham senão que obedecer às ordens que lhe haviam sido dadas; não competia a eles pesar e calcular as conseqüências políticas (...)”

Com base nos fatos e argumentos, corrigindo enganos e apontando dissimulações de ambos os lados

Podemos conferir claramente que Karl Doenitz não esconde o fato de que o ministro do Exterior alemão, Ribbentrop, não fez objeção de fazer guerra submarina ao “largo do Brasil”, mas do outro lado, é fácil interpretar que não seria do consentimento do próprio Ribbentrop que os navios de navegação doméstica viessem a ser alvos dos submarinos, já que obviamente estariam navegando próximos da costa e não ao largo. Em outras palavras, caso os navios de cabotagem brasileiros fossem atacados, as suas prováveis conseqüências negativas, estariam em direta contradição com a da contra-ordem anterior advinda de Hitler. Diga-se de passagem, que os torpedeamentos dos mercantes Itagiba e Arará, foram tão próximos do litoral baiano, que se podia observar a paisagem litorânea. Mas os afundamentos do dia 17 de agosto na zona costeira da Bahia, igualmente nos revela mais outro ato criminoso, desumano e vergonhoso praticado pela arma alemã, porquanto Schacth afundou o Arará justamente no momento quando aquele navio acabava de recolher os náufragos do Itagiba.

Obedecendo as regras dos homens do mar, o comandante do Arará, José Coelho Gomes, tinha mudado de rumo para prestar socorros às vítimas que se debatiam nas águas e quando já estava aquele cargueiro com 18 náufragos a bordo, divisou-se do seu bordo o torpedo contra ele lançado. O Arará desmantelou-se e afundou, levando consigo, os náufragos que haviam sido resgatados, sendo que uns deles se salvaram, mas a maioria, desaparecera. O Itagiba que transportava 119 pessoas, 36 pessoas foram sacrificadas, sendo 10 tripulantes e 26 passageiros e no Arará, 21 dos 35 tripulantes, foram assassinados.

Antes de passarmos a analisar outros argumentos alegados pelo almirante alemão, com o objetivo de se coloque às claras as suas justificativas, as quais não passam de manobras diversionistas destinadas a diluir a sua responsabilidade pessoal na ação cometida pelo U-507, é necessário dizer que o gesto do ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, em assumir publicamente a responsabilidade dos ataques de aviões brasileiros aos submarinos do Eixo (fato a que se refere acima Doenitz), em nossa opinião, não só foi precipitado, mas também imprudente e irresponsável, uma vez que para a direção da guerra marítima alemã, as ações dos aviões da FAB não deixavam nenhuma dúvida: o Brasil vinha participando ativamente, ao lado dos Aliados, nas operações de guerra.

Como historiadores, procuramos não sermos guiados pelos “achismos” históricos. Procuramos sim, pesquisar atentamente, visando descobrir o que se encontra na maioria das vezes, escondido nas intenções dos homens que constroem os fatos históricos. Portanto, o presente trabalho de pesquisa é um estudo interpretativo que busca iluminar alguns aspectos desse intrincado processo da História Contemporânea brasileira. E para esclarecimento da memória nacional e internacional, procuramos sempre seguir o caminho de adotar critérios imparciais e objetivos para sermos o mais justo que podemos em nossos julgamentos, sobre tomadas de decisões que ora, se encontram distantes; as quais foram mistas, ou seja, decisões político-militares, outras, puramente militares e por fim, aquelas influenciadas por personalidades e fatores de prestígio.

Algumas decisões tomadas, principalmente pelo titular do Ministério da Aeronáutica do governo de Vargas, canalizaram o curso de nossa História naquela conflagração sem precedentes. Fazer o julgamento de brasileiros que tiveram participação de relevo naquele nebuloso contexto histórico do país é necessário; não pelo prazer de explorar controvérsias e muito menos de fomentar polêmicas, mas para melhor entender os caminhos que eles e os de sua geração seguiram naquela época conturbada.

E querer reconstituir os fatos reais, requer um minucioso trabalho de pesquisa, a fim de ficarmos ao máximo isentos de nos tornamos tendenciosos, face, a um assunto delicado, uma vez que envolve atos tidos como exemplos de heroísmos e cumprimento de dever patriótico, praticados em ambos os lagos, onde o nacionalismo exacerbado liderava as mentes. É preciso conhecer os personagens, o cenário, o contexto e, além disso, ter a ciência de que a visão de uma época, só adquire clareza a partir de seu exame com fins interpretativos, relacionados ao ambiente econômico, político, social e cultural contemporâneos aos fatos.

De modo que podemos inferir que o ato do ministro Salgado Filho naquele contexto, sendo influenciado, entre outros, pelo desejo de conquista de reconhecimento e de glórias militares para o seu Ministério - criado exatamente nos anos da guerra (1941, ano em que também com a colaboração dos Estados Unidos foi criada a Companhia Siderúrgica Nacional) – veiculando um aviso revanchista e nacionalista, atraiu sobre os brasileiros uma fúria visceral absolutamente implacável, que atingiu em condições alarmantes, a população civil que se servia do transporte de cabotagem.

Em nossa análise, não resta dúvida de que o ato daquele ministro apoiado por Getúlio Vargas e não menos pelo presidente dos Estados Unidos colocou o Brasil às vésperas, de uma investida da agressão militar alemã, porém, revestida por uma violência criminosa armada cometida pelo U-507, desproporcional, feita em nome de uma reação punitiva e conseqüentemente, de caráter muito sério contra a soberania de mar territorial brasileiro.

A responsabilidade ficava por conta dos EUA, que em guerra, podia jogar bombas?

O tenente-brigadeiro, Deoclécio Lima de Siqueira em seu livro “Fronteiras – A patrulha aérea e o adeus do arco e flecha”, não deixaria de justificar o ato cometido por aquele ministro brasileiro. Ele assim escreve:

“Hoje, na calmaria distante daqueles tempos agitados, um analista menos avisado talvez possa admitir que o gesto do Ministro tenha sido precipitado, visto que o Brasil ainda se encontrava em estado de neutralidade. Mas, tal hipótese nem é justa, nem real. É preciso que se considerem três aspectos importantes:
Em primeiro lugar, nossa neutralidade já havia sido violada com a perda de várias dezenas de brasileiros mortos nos navios mercantes afundados nas costas dos E.U.A. Os primeiros traziam sinais de identificação à vista, de acordo com as convenções internacionais. Pode-se argumentar que isto foi feito em nome do bloqueio aos E.U.A. Este argumento, porém, esbarra no próprio conceito de neutralidade, pois não pode exigir respeito dos neutros se não os respeitamos, mesmo em contato com nossos inimigos no exercício de sua neutralidade.”

Em nossa análise, é contraproducente concordamos com o aviador brasileiro, pois assim estaríamos justificando em pactuar com a perversa dialética de ação e reação de atos de beligerância. É bem verdade que foram os nazi-fascistas que deram início a essa dialética e acima já desmentimos o que alegou o almirante Karl Doenitz, mas se as lideranças militares e políticas do Eixo desrespeitaram a neutralidade, o Brasil passaria a seguir os mesmos passos e passaria a não se comportar como um país neutro.

Voltemos ao segundo aspecto citado pelo pesquisador da história da aviação militar do Brasil, tenente-brigadeiro Deoclécio:

“Em segundo lugar, pode-se alegar que os aviões eram norte-americanos com instrutores daquela nação. Mas há que se considerar o fato que eles estavam incorporados ao Agrupamento de Aviões de Adaptação, uma organização criada na Força Aérea Brasileira, sob comando de oficial brasileiro, e as ordens para os ataques foram dadas pelos oficiais brasileiros no comando de tais aviões, os quais se encontravam em processo de transferência para a FAB. Não seria digno se abdicar dessa responsabilidade”.

Ora, aqui, deixemos que as próprias palavras do veterano da Campanha da Itália, o aviador, Nero Moura, falem por nós, e que os leitores assim tirem as suas próprias conclusões, uma vez que Nero Moura nos legou um depoimento esclarecedor, ou seja, de como se vivia debaixo de uma já comprometedora guerra informal:

“(...)a entrada do Brasil na guerra só começou a se esboçar, realmente, quando se teve notícia dos primeiros torpedeamentos de navios brasileiros pelos alemães, em 1942. Só então compreendemos que teríamos que brigar mesmo. Já nessa época participávamos do patrulhamento no Nordeste, trabalhando com os americanos a pleno vapor na defesa da costa, com aviões cheios de bombas de profundidade, e, embora sem ordens expressas, andamos atacando submarinos que estavam nas nossas barbas, fora de águas territoriais, mas a menos de 200 milhas. Ainda não havíamos declarado guerra, mas as instruções das autoridades eram para que os pilotos, no patrulhamento das praias, ou, sobre o oceano, bombardeassem os submarinos, casos fossem atacados. Houve dois ou três ataques, não sei se tiveram sucesso, mas repercutiram na imprensa, através de inúmeras entrevistas do ministro Salgado Filho sobre o assunto. Quer dizer, já havia um consentimento tácito de que podíamos atacar. Mas, como os americanos voavam conosco, ás vezes a responsabilidade da ação ficava por conta deles, que estavam em guerra e podiam jogar as bombas”.

Um plano de ataque concentrado e impiedoso

Agora, vamos ao terceiro e último aspecto alegado pelo tenente-brigadeiro Deoclécio:

“Por fim, não podemos esquecer a diretriz do então chefe da área, o Brigadeiro Eduardo Gomes.Um submarino hostil, aquele que não se identificar, deve ser atacado. Há momentos em que um chefe não pode se omitir. Aquele era um deles e Eduardo Gomes não era de omissões. Depois do ataque ao Comandante Lira, e dos submarinos encontrados, não restava dúvida de que vivíamos às vésperas de uma investida mais séria contra nossas costas. Havia indícios evidentes de que a guerra submarina se orientava para o sul, na sua estratégia de buscar a surpresa. A todos estava bem presente o exemplo do ocorrido nas costas norte-americanas. Um chefe responsável não poderia se omitir ante a perspectiva de um novo ‘alegre massacre’, agora em nosso litoral. Esperar por ele para depois agir, em nome de uma neutralidade já desrespeitada seria uma imperdoável ingenuidade ou uma inadmissível falta de visão ou de coragem. Eduardo Gomes não conhecia essas falhas. Era um líder. Não havia outro caminho. Estava certo. Como também esteve certo nosso primeiro Ministro da Aeronáutica ao chamar a si a responsabilidade do ocorrido”.

Aqui, fazemos uma única e categórica ressalva: foi justamente em decorrência da ação de represália da FAB ao atacar os submarinos do Eixo, sem uma declaração formal de guerra que veio causar “um alegre massacre” na costa brasileira no mês de agosto de 1942, ou seja, só se começou a viver às vésperas de uma investida mais séria contra o litoral brasileiro, depois que os brasileiros exultaram com a ação revanchista praticada pelos aviões da FAB. E, diga-se de passagem, que o plano anterior da investida retaliatória do Eixo contra o Brasil seria muito pior do que a que foi praticada pelo U-507. Em outras palavras, quando o ministro da Aeronáutica anunciou com júbilo os ataques a submarinos do Eixo, o comandante da Força de Submarinos, Karl Doenitz, recebeu ordem de preparar um ataque concentrado de submarinos aos portos brasileiros.

Baseando-se então nesse estudo, o comandante-em-chefe da Marinha alemã, almirante Raeder, propôs a Hitler o envio ao Brasil de um grupo de dois submarinos do tipo IX-C, grandes, e oito do tipo VII-C, de tonelagem média, acompanhado pelo submarino-tanque U-460, para atacar simultaneamente entre 3 e 8 de agosto todos os navios que estivessem nos portos de Santos, Rio de Janeiro, Bahia e Recife e posteriormente minar as suas entradas.

E revela o já citado Jurgen Rohwer – ex-submarinista alemão - que Hitler teria concordado, mas pediu para tornar claras as conseqüências políticas advindas da represália, consultando o ministro das Relações Exteriores. Mas palestrou Jurgen Rohwer que quando o ministro Ribbentrop “levantou sérios escrúpulos porque este ataque traria não só o Brasil – que já era considerado como participante da guerra, como os EUA antes de Pearl Harbor – mas também a Argentina e o Chile para o lado dos Aliados, Hitler cancelou seu consentimento e ordenou que os submarinos, que já estavam a caminho, fossem enviados para outras áreas de operação. Esta ordem foi enviada em 29 de junho e os nove submarinos no mar alteraram seus rumos para zonas de operação nas costas de Freetown, Trinidad e Caribe”.

Porque Doenitz lamentaria e consideraria um erro político o ataque do U-507?

Mas o que aconteceu para que um daqueles nove submarinos viesse posteriormente ser deslocado para atacar a Marinha Mercante de cabotagem brasileira? O especialista no estudo das ações dos submarinos alemães na Segunda Guerra Mundial, Jurgen Rohwer, em parte nos fornece a resposta ao ter dito em 1982 para uma platéia de militares brasileiros, que o Comando da Força de Submarinos alemão assim tomou “uma péssima decisão, quando em 7 de agosto o U-507 recebeu por rádio a mensagem para usar ‘manobras livres’ ao longo da costa do Brasil. E acrescenta:

“Não há evidência da real intenção que havia por trás desta ordem, porque suas prováveis conseqüências estariam em direta contradição com a da contra-ordem anterior de Hitler. Deve ter sido um erro tolo, causado por um desejo anterior de retaliação pela participação das forças brasileiras na guerra anti-submarino”.

Em assim devemos deixar bem claro que o tal “erro tolo” partiu nada menos da ordem proferida de Doenitz, uma vez que o especialista Jurgen Rohwer, acima menciona que a ordem partiu do Comando da Força de Submarinos. E caso não contássemos com a afirmação do referido especialista, não deixaríamos de saber de quem partiu tal ordem, ou seja, a responsabilidade pelo crime de guerra cometido em águas brasileiras a encontramos nos próprios registros fornecidos pelo almirante Doenitz. Revela ele em suas memórias

“Sem considerar a opinião da Argentina, o Ministro do Exterior negou permissão para qualquer operação ao largo das costas daquele País, mas não fez objeção à continuação de nossas atividades ao largo do Brasil, que haviam sido permitidas em maio e que estavam em progresso desde então. Decidi, portanto mandar, em associação com as operações planejadas contra o tráfego de navios Norte-Sul ao largo de Freetow, mais um U-boot para a costa brasileira. Do outro lado do estreito entre a África e a América do Sul, o U-507(Tenente-Comandante Schacht) estava operando. Ali fora das águas territoriais, ele afundou cinco navios brasileiros. Nisto ele agia de acordo com as instruções expedidas, com a cooperação do Ministro do Exterior, pelo Quartel-General das Forças Armadas”.

Ora, o almirante Doenitz mais uma vez falseia os verdadeiros fatos, porque ele sabia de antemão que os navios brasileiros previamente escolhidos para serem afundados por Schacht, não se encontrariam navegando ao “largo do Brasil”, zona aonde o seu ministro do Exterior, obviamente permitiria que se efetuassem as operações de guerra submarina. Portanto, analisando o que Doenitz escreveu, é de se notar que foi de sua inteira e única responsabilidade o ato de ordenar o deslocamento do U-507 para operar em meio da navegação doméstica brasileira, que se entabulava a menos do que oito milhas de distância da costa. Em suma, a decisão de atacar navios repletos de passageiros foi um erro tolo advindo de Doenitz, “causado por um desejo anterior de retaliação”.

E não duvidamos que os afundamentos de agosto de 1942, foi um bálsamo para o ego do chefe do Comando da Força de Submarinos, porque não era feitio daquele militar alemão sofrer agressões sem revidá-las ainda mais violentamente, principalmente pelo fato de que aviões de patrulha da FAB, recentemente fornecidos pelos EUA - tendo a bordo instrutores norte-americanos - deliberadamente procuraram atacar os submarinos do Eixo que se encontravam posicionados ao “largo do Brasil”.

Repetimos, no dia 22 de maio de 1942, um avião da FAB, sob o comando do aviador Parreiras Horta, decolou da Base de Natal, especialmente com a missão de “localizar e atacar submarino hostil” que havia agredido o mercante armado Comandante Lira, navio que sem autorização e de forma muito suspeita, encontrava-se navegando ao largo, ou melhor, fora das águas territoriais brasileiras e se o governo, a imprensa, o povo, brasileiros, e até Roosevelt exultaram com o revide perpretado pela FAB, os nazi-fascistas se inflamaram, especialmente o almirante Karl Doenitz.

“Assim agindo, com destemor, espírito militar e evidenciando admirável capacidade profissional o capitão Parreiras Horta tornou-se digno de louvor e credor de admiração nossa e do país que teve, na ação por ele brilhantemente praticada, a primeira demonstração prática, no atual momento, do nosso patriotismo e desvelo na defesa da nossa integridade” – são estas as palavras do ministro da Aeronáutica Salgado Filho, as quais evidenciam o estado de beligerância não declarada em que o Brasil já se encontrava e que uma declaração de guerra formal por parte do governo varguista estava já em gestação, aguardando apenas o momento mais apropriado para que viesse eclodir. E assim se deu com o ataque terrorista desfechado pelo U-507.

Deixando de lado os equívocos praticados pelos brasileiros, e voltemos aos cometidos pelos alemães: o historiador Vágner Camilo Alves, autor do livro “O Brasil e a Segunda Guerra Mundial – História de um envolvimento forçado”, vem comentar o fato de que é estranho que o almirante Doenitz, em suas memórias, “lamente e considere um erro político os ataques submarinos alemães de agosto de 1942, possíveis após o levantamento das restrições a ataques nas costas brasileiras feito pelo governo alemão, e que redundou na declaração de guerra do Brasil. No curto espaço de um único parágrafo, ele não apresenta qualquer argumento que possa referendar sua opinião de que levar o Brasil a declarar oficialmente a guerra foi ‘indubitavelmente um erro’. Para isto, o almirante teria de mostrar que o aumento da participação brasileira no esforço de guerra aliado mais do que compensou o incremento na tonelagem naval aliada afundada pelos submarinos do Eixo na região, e o desvio de recursos técnicos e militares dos Estados Unidos, para área e tarefa completamente subsidiária vis-à-vis a guerra total que se travava. Presumo que não foi o caso, com base nos fatos e argumentos apresentados aqui”.

Agosto se tornou realmente um mês emblemático?

Por causa dos massacres causados pelo U-507, segundo alguns autores brasileiros, até os tempos de hoje, o mês de agosto tem sido aziago na história do Brasil. Mas seja como for, naquele mês de agosto de 1942 os dias foram muito dolorosos. As repercussões da agressão foram dramáticas. Até o mês anterior excetuando a agressão ao mercante Comandante Lira por um submarino italiano, os ataques aos navios nacionais eram feitos longe dos olhos do sentimental povo brasileiro. Mas agora, porém, as conseqüências da animosidade recíproca se fizeram bem perto. Os cadáveres que deram em terra - alguns irreconhecíveis - depois de fotografados (para servir posteriormente como material de propaganda em um impresso produzido em 1943, pelo governo, sob o título: “Agressão - Documentário dos fatos que levaram o Brasil à guerra”), foram enterrados em valas rasas, abertas na restinga das vastas e desertas praias nordestinas. O ápice então das ameaças fora atingido. O próprio Mussolini, o fundador do fascismo na Itália e primeiro-ministro e ditador do país entre 1922 e 1943, havia declarado que chegaria o dia em que o Brasil pagaria caro pela ruptura. Cabe lembrar que a decisão de rompimento do Brasil e de mais 21 países foi tomada em 28 de janeiro de 1942 na Conferência Pan Americana no Rio de Janeiro, sob a influência explícita do chanceler Oswaldo Aranha.

A posição de Mussolini já tinha sido muito clara diante do eventual rompimento coletivo dos Estados americanos, pois se isso ocorresse, como de fato estava programado para ocorrer, “seria o caso de simplesmente declarar-lhes guerra; assim, imporemos aos Estados Unidos à obrigação de defender uma vasta frente: os latino-americanos querem uma guerra branca, mas terão uma vermelha” - disse o Duce (termo italiano para “o líder”), então quase feliz com essa perspectiva, a qual se concretizou em relação ao Brasil, quando Doenitz ordenou o ataque do U-507 contra a Marinha de cabotagem brasileira. Contudo, mal sabia o líder fascista, que em 1944, mais de vinte e cinco mil soldados oriundos, de todos os estados brasileiros (os quais, diga-se de passagem, tiveram suas bandeiras rasgadas pelo governo varguista no advento do ambíguo Estado Novo), desembarcariam em solo italiano para lutar ao lado das forças aliadas para libertar a Europa dos regimes ditatoriais nazi-fascistas; muito embora, faz-se convenientemente lembrar, que o Brasil também estava sob um regime ditatorial. Mas seja como for, com a ajuda dos pracinhas brasileiros no teatro da guerra na Itália, Benito Mussolini, uma vez foragido e uma vez capturado, teria seu fim decretado em 28 de abril de 1945 pelos partigiani (resistência armada), sendo executado sumariamente com sua amante, Clara Petacci, em Dongo, Itália.

O malfadado Sétimo Grupo de Artilharia de Dorso

O escritor Frank D. McCann em seu livro “Aliança Brasil-Estados Unidos 1937-45”, revela que o próprio Hitler teria, em transmissão radiofônica, em junho de 1942, alertado o governo brasileiro que o país seria alvo de uma blitz submarina. Portanto, como se pode observar até aqui, os navios mercantes brasileiros de navegação doméstica passaram a trabalhar em um ambiente de pré-guerra e essa expectativa já estava bem evidenciada nas ordens que então receberam todos os comandantes, de navegarem mais próximos da costa e que durante a noite, as luzes internas de seus barcos deveriam ficar apagadas, porém os faróis de navegação deveriam ficar acesos. E ainda, segundo as normas expedidas pelo governo brasileiro, os navios de cabotagem (que como medida de segurança já traziam as vigias pintadas de preto) deveriam tomar precauções quando passassem a navegar de Maceió em direção mais para o norte; ordens, aliás, comuns em todas as viagens feitas pelos mercantes naquele tenso período de hostilidades recíprocas. Ora, faltou pouco para que os navios mercantes das linhas de cabotagem viessem a navegar como se pertencessem a uma nação não neutra. Porém, pior do que isso foi o fato de que dos cinco navios torpedeados pelo U-507, dois foram usados ao nosso ver, indevidamente, ou seja, no transporte de soldados e material de guerra para guarnecer Recife. Sobre os preparativos de conduzir efetivos militares a fim de aumentar a defesa de um ponto estratégico do litoral nordestino, certamente estava bem informado o Comando Naval alemão por conta da ativa espionagem da Quinta Coluna nazista. De modo, que, perdeu-se com o Baependi e com o Itagiba todo o material do Sétimo Grupo de Artilharia de Dorso (criado pelo decreto-lei 4.342 de 26 de maio de 1942), bem como grande parte de seu pessoal (morreram 132 soldados), além do material destinado a Recife e ao destacamento de Fernando de Noronha. Ora, embarcando tropas em navios mercantes das linhas de cabotagem, o Ministério da Guerra assumiu graves responsabilidades.

O próprio general Dutra - então Ministro da Guerra - revelou em um de seus muitos depoimentos, o seguinte:

“(...) A primeira conseqüência desastrosa da campanha submarina foi de perdermos a liberdade de navegação, numa época em que ainda estávamos equipando e reforçando as guarnições do Nordeste, forçando-nos, assim, a apelar para a rota do Rio São Francisco (...)”.

Em verdade, desastrosa foi a ordem tomada pelo general Dutra em fazer transportar em agosto de 1942 nos navios de cabotagem, efetivos do Exército naquele período de beligerância não declarada. Aquele general, como as demais autoridades brasileiras bem sabiam que naquele momento, a situação era imperiosamente perigosa, o que se encontra evidenciado quando se fez o recente transporte de soldados para o guarnecer o longínquo arquipélago de Fernando de Noronha, porquanto o navio de transporte recebeu a escolta do cruzador Rio Grande do Sul. Embora o deslocamento do Sétimo Grupo de Artilharia de Dorso fosse realizado em águas costeiras relativamente mais “seguras”, seria razoavelmente prudente e responsável, que o assim fizesse em navios escoltados e em segredo e não como foi feito às claras e em navios de linha de cabotagem. Resultado: aquele efetivo militar veio sucumbir nos ataques desfechados ao Baependi e ao Itagiba, fazendo-se vítimas, indistintamente, a militares e civis.

Na prisão de Spandau: dez anos confinado

Um ano depois do Brasil se alinhar definitivamente em favor dos interesses políticos e estratégicos dos EUA, principalmente sob a batuta do chanceler Oswaldo Aranha - um democrata que não estava isento de ambigüidade e de oportunismo - um Catalina norte-americano avistou o U-507 bem ao largo, ao noroeste da costa de Natal e o atacou com cargas de profundidade, levando a morte todos os seus 54 ocupantes. Esse fato ocorreu em 13 de janeiro de 1943. Em 1944, Harro Schacht, que havia sido condecorado em 9 de janeiro de 1943 com a cruz de cavaleiro da cruz de ferro - a ritterkreuz des eisernen kreuzes - receberia postumamente a patente de capitão-de-fragata.

Finalizando, o almirante Karl Doenitz era um dos poucos oficiais nacional-socialistas convictos da Marinha alemã nazista, ele em muitas vezes pregou política para seus marinheiros e para o povo alemão, louvando “o líder enviado do céu” na pessoa de Hitler. O almirante Karl Doenitz, não somente jamais discordou da política do Partido Nazista em qualquer sentido, mas adotou seus usos básicos e falou sobre os judeus no mesmo tom usado pelos gauleiters (chefes distritais). Ele em verdade, foi completamente devotado a Hitler. “Somos uns vermes, comparados a ele”, assim disse Doenitz em 1943 a uma multidão de fanáticos em Berlim, acrescentando que Hitler previa tudo e não cometia julgamentos incorretos.

Foi só no fim da guerra que Doenitz na frente do governo do III Reich, ordenou que fossem retiradas as fotografias de Hitler dos lugares públicos, uma semana depois da rendição. A Alemanha então se encontrava em completa ruína e num caos infernal.

Karl Doenitz foi levado ao Tribunal de Nuremberg, sob a acusação pelos mais graves crimes que poderiam se imputados a um marinheiro, não somente por conspirar para promover guerra agressiva e sua efetivação, mas também por crime de guerra, o crime de guerra de qualquer oficial naval: não fez nenhum esforço para salvar os sobreviventes de navios torpedeados. Além do mais, Doenitz levou à morte, de acordo com a acusação, centenas de não-combatentes, inclusive mulheres e crianças, passageiros de navios mercantes. Mas o Tribunal de Nuremberg acabou por considerá-lo culpado de haver cometido crimes contra a paz, mas não de haver conspirado para cometê-los. Foi também considerado culpado de crimes de guerra; seu apelo de tu quoque (“você é outro”) para a conduta de guerra submarina foi aceito, mas o Tribunal de Nuremberg disse que ele estava envolvido na Ordem de Comando e que permitira que fosse a mesma posta em prática depois que se tornara Comandante-em-Chefe da Marinha em 1944. Mas o testemunho que, indubitavelmente, salvou a vida de Doenitz partiu do almirante norte-americano Nimitz e do Almirantado Inglês. E Doenitz foi condenado a dez anos de prisão na fortaleza de Spandau.

Mesmo depois dos julgamentos de Nuremberg, Doenitz continuou com sua obstinada defesa de Adolf Hitler. E ele ainda viveu o bastante para escrever suas equivocadas memórias (publicadas em 1968 e intituladas: “Dez anos e vinte dias”), as quais nos servimos para apontá-lo como sendo o responsável direto pela matança de civis brasileiros. Em 1957, em Wilhelmshaven, por ocasião de uma solenidade em memória da guerra naval, lá estava ele, Doenitz com a mão por baixo do braço do seu ex-comandante-em-chefe da Marinha alemã - almirante Raeder - visivelmente ajudando-o a conservar-se de pé. Ambos estavam livres e com todas as lembranças do que tinham e do que não tinham feito ao lado do megalomaníaco Hitler, o qual queria impor ao mundo o Milênio do III Reich. Mas o III Reich, que durou apenas 12 anos e que foi construído com base na violência armada e que governou debaixo da violência institucional, cometendo crimes e crimes, provocou obviamente uma resposta violenta por parte de outras nações imperialistas, que finalmente o destruiu.

As metas da política externa que foram esboçadas no Meín Kampf havia transformado o mundo em um inferno e em seu rastro, uma outra guerra surgiu: a Guerra Fria, justamente entre dois países, que se aliaram oportunamente para derrotar o nazi-fascismo. Karl Doenitz faleceu em 1980 e nove anos depois o “Muro de Berlim”, de quase 166 quilômetros de extensão começaria a ser derrubado.

Submarinos norte-americanos secretamente afundariam navios brasileiros?

Finalmente, cabe dizer que o estudo acima também tem o objetivo de esclarecer uma absurda dúvida histórica que vem de boatos já surgidos ainda em tempos de guerra e que já transformado em um mito, obviamente sobrevive até hoje, ou seja, a de que responsabilidade pelos ataques aos navios nacionais é imputada aos submarinos norte- americanos. Na década de 60 do século passado, alguns historiadores brasileiros chegaram a afirmar que os torpedeamentos de agosto de 1942 foram feitos pelos militares de Roosevelt, sustentando-se no fato de que os Estados Unidos pretendiam obrigar Getúlio Vargas a declarar guerra ao Eixo. Entretanto, o já citado autor, Vágner Camilo Alves comenta que se Karl Doenitz, “a maior liderança alemã no que diz respeito à guerra submarina no Atlântico confessa, sem maiores problemas, a responsabilidade alemã pela destruição dos navios brasileiros penso já ser momento de sepultar, definitivamente, qualquer hipótese esdrúxula atribuindo à ação militar norte-americana a responsabilidade pelas perdas navais brasileiras”.


A legalidade da guerra submarina

Durante os processos movidos em Nuremberg, chegou-se as seguintes conclusões, quanto à legalidade da guerra submarina:

a) ser lícita essa guerra, sem restrições;
b) os navios mercantes armados são assimilados aos navios de guerra a que é permitida qualquer ação contra eles;
c) que os navios mercantes, armados ou não, nas zonas declaradas de “guerra” podem ser afundados sem prévio aviso;
d) que os navios neutros não podem ser atacados em qualquer parte do mundo, desde que não se recusem às visitas ou pratiquem atos de assistência hostil.


“A história, dizem freqüentemente, não poderia contentar-se em ser uma narração; ela também explica, ou melhor, deve explicar”. (Paul Marie Veyne)

O autor da pesquisa acima, Elísio Gomes Filho, é historiador e escritor. E veio elucidar o mistério que cercava o desaparecimento do barco de pesca brasileiro “Changri-lá”; descobrindo que o mesmo fora atacado em julho de 1943 na costa do Rio de Janeiro pelo U-199. Hoje, o nome do barco e de seus dez pescadores, encontram-se imortalizados no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra, no Aterro do Flamengo.

Bibliografia consultada:

Agressão - Documentário dos fatos que levaram o Brasil à guerra. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1943.
Alves, Vágner Camilo. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial – História de um envolvimento forçado. Rio de Janeiro, Edições Loyola, 2002.
Arquivo Histórico do Ministério do Exército - Edifício Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Coletânea de documentos do Inquérito Policial Militar sobre os torpedeamentos de agosto de 1942.
Davidson, Eugene. A Alemanha no banco dos réus - tomo II. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1970.
Duarte, Paulo de Q. Dias de guerra no Atlântico Sul. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército - Editora, 1968.
Gama, Arthur Oscar Saldanha. A Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro, CAPEMI Editora, 1982.
Hilton, Stanley. Oswaldo Aranha - Uma Biografia. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 1994.
Huck, Hermes Marcelo. Da guerra justa á guerra econômica. São Paulo, Editora Saraiva, 1996.
Kershaw, Ian. Hitler um perfil do poder. (Edição em língua portuguesa). Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1993.
Leite, Mauro Renaut e Júnior, Novelli. Marechal Eurico Gaspar Dutra. O dever da verdade. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira,1983.
Moura, Nero. Um vôo na história. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas Editora, 1996.
O Brasil e a Segunda Guerra Mundial - volume II. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, Ministério das Relações Exteriores, 1944.
Mason, David. Submarinos alemães - a arma oculta - número 8. Rio de Janeiro, Editora Renes, 1975.
Revista Marítima Brasileira - Ano LXX1 - out.-dezembro de 1951. Rio de Janeiro, Imprensa Naval, Ministério da Marinha, 1952.
Rhodes, Richard. Mestres da Morte. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 2003.
Rohwer, Jurgen. Operações navais da Alemanha no litoral do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, in Navigator - Subsídios para a História Marítima do Brasil - número 18. Rio de Janeiro, SDGM, Ministério da Marinha, 1982.
Seintenfus, Ricardo. O Brasil vai a guerra. São Paulo, Editora Manole, 2003.
Pedrosa, J. F. Maya. O enigma dos submarinos - Nordeste do Brasil, 1942. Maceió-São Paulo, Edições Catavento, 2001.
Tota, Antonio Pedro. O imperialismo sedutor – A americanização do Brasil na época da Segunda Guerra. São Paulo, Editora Schwarcz, 2000.

Estudo copiado do site:

http://www.europa1939.com/documentos/u507.html